DOI: https://doi.org/10.71112/3m9pgb56
797 Revista Multidisciplinar Epistemologia das Ciências | Vol. 2, N. 2, 2025, abril- junho
Vicente: Yonta, você é criança, cresceu rápido e acha que já é
mulher. Yonta: Criança, eu?
Vicente: Sim, só porque te escrevem cartas de amor. Trocaram os ideais
por vestido, carro e boates.
Yonta: Olha Vicente se as coisas que tinha em seu pensamento (seus
ideais) forem como uma mão de sal na água, eu não tenho culpa. Só
que uma coisa é certa, respeitamos o passado, mas ninguém quer voltar
a vivê-lo.
Vicente: Como nasceu essa terra? Você não sabe.
Yonta: Te digo: eu gosto de você por aquilo que você se tornou hoje.
E tenho admiração pelas as coisas que você fez ontem, mas eu quero
ser livre no meu jeito de gostar. Não foi para isso que fizeram a luta?
Vicente: Por favor Yonta, vá! E não complique a minha vida mais do que
já está. Yonta: Afinal quem é criança, Vicente?
(GOMES, 1992 - trecho de Olhos azuis de Yonta, 1992)
No diálogo ilustrativo, nota-se que, apesar de Yonta ser constantemente criticada por
Vicente em função de seu comportamento e desejos (modas, carros, boates e a carta de olhos
azuis), dizendo até que Yonta não sabe como foi fundado o país e a nação que hoje ela é parte.
Por seu turno, Yonta tenta rebater dizendo que ela só quer ser livre em seu jeito de gostar, porque
é isso que foi o grande propósito da luta. E que criança não era ela, mas sim o próprio Vicente –
que não entende que precisa aceitar a nova era de mudanças e liberdades. Segundo a
observação de Alves (2020), ao citar dois autores:
compreende a tentação do narcisismo cultural e fetichização do passado”
que representa a fala de Vicente, entretanto, são justamente os “desejos”
individuais, que Adesokan se refere, que não dialogam, são
individualistas e perdem a lógica comunitária quando se voltam para as
“modernidades” importadas, se afastam do ideal nacional revolucionário.
(OGUNFOLABI, 2008, p. 152; ADESOKAN, 2008 apud ALVES 2020 p.
50).
As críticas feitas por Vicente a Yonta, sendo a representação da jovem nação,
automaticamente são direcionadas ao próprio país que insiste em experimentar novos gostos, (a
moda, a curtição, o luxo e a ostentação), condições que a modernidade e o ocidente
proporcionam só para um número reduzido de indivíduos da elite e dos senhores do poder que
infelizmente escolhem permanecer indiferentes à necessidade de um bem-estar comum.